Ervin Laszlo (Ervin László) é provavelmente o maior responsável pela existência deste blogue. Ele e um professor iraniano que lecionava na Universidade do Minho em 1993/94, no âmbito do Mestrado em Tecnologia do Ambiente, e de quem, infelizmente, não consigo lembrar o nome. Foi este último que indicou o livro "THE INNER LIMITS OF MANKIND", de Ervin Laszlo.
Esta leitura fez-me despertar, fez-me sentir profundamente que algo de muito errado estava a acontecer no mundo, e que era urgente mudar o meu rumo e fazer parte dessa mudança. Hoje, ao fazer umas arrumações, descobri, finalmente, as fotocópias do livro então fornecidas.
Partilho então a tradução que fiz (dentro das minhas limitações) de um extrato do capítulo 2, "Personal Limits, The Unrecognized Obsolescence of Modernism", desse livro.
«LIMITES PESSOAIS - A Ignorada Obsolescência do Modernismo"
Antes de partimos para reformar o mundo, faríamos bem fazer uma pausa para ver se não temos de nos reformar a nós próprios. Os limites interiores que correntemente constrangem o crescimento e desenvolvimento da humanidade incluem os limites associados com a maneira como cada um de nós pensa e se comporta, tanto na esfera privada como no contexto público. Os nossos valores, crenças e ações somam-se às grandes tendências económicas, culturais e políticas que determinam os caminhos que a humanidade escolhe para o futuro.
Assim, vou começar com uma nota muito pessoal. Começo fazendo algumas perguntas que fiz a mim próprio, e que parecem ingénuas ou de senso comum, mas que são de importância fundamental e merecem respostas honestas. Deixem-me perguntar, então, a cada um e a todos os leitores, se sim ou não, acredita sinceramente:
- - Que neste mundo é cada um por si próprio, com os mais fortes e engenhosos a ganhar privilégios legítimos.
- - Que uma 'mão invisível' harmoniza os interesses individuais e sociais, de modo que quando alguém faz bem a si próprio também beneficia a sociedade.
- - Que a melhor maneira de ajudar os pobres e os necessitados é que os ricos fiquem mais ricos pois a riqueza inevitavelmente gotejar para beneficiar os oprimidos e elevá-los a um estatuto decente (não disse Kennedy "uma maré alta levanta todos os barcos"?).
- - Que a ciência pode resolver todos os problemas e revelar tudo o que pode ser conhecido sobre o homem e o mundo.
- - Que a ciência descobre 'factos' e só eles é que contam; valores, preferências e aspirações são meramente subjetivos e inconsequentes.
- - Que a maneira de revelar os factos é a especialização, e aprender o máximo sobre o mínimo de temas possível, deixando que outros especialistas se preocupem com tudo o resto.
- - Que se alguma coisa pode ser projetada e produzida para o lucro, também deve ser comercializada, pois é destinada a melhorar situação ou a tornar mais felizes pelo menos algumas pessoas.
- - Que a verdadeira eficiência é a máxima produtividade para cada máquina, para cada empresa, e para cada ser humano.
- - Que podemos saber tudo o que precisamos sobre as pessoas calculando os custos e benefícios da sua atividade e recursos, salvo algumas excepções a personalidades ou a antecedentes étnicos.
- - Que todos devem lealdade em primeiro lugar ao seu país, e que todos os países (exceto algumas colónias remanescentes) são incondicionalmente soberanos e estados-nação independentes.
- - Que a riqueza e poder do seu próprio país deve ser assegurada independentemente do que isso significa para outros povos, pois neste mundo não é só cada homem por si próprio, mas também cada país por si próprio.~
- - Que o poder da riqueza e o poder político decidem o que é para ser, e as ideias servem principalmente para encher livros e tornas as conversa mais impressivas.
- - Que as nossas responsabilidades acabam quando asseguramos o nosso bem-estar - o que felizmente assegura também o bem-estar do nosso país - e deixar as próximas gerações cuidarem de si mesmas, como a nossa teve de fazer.
- - Que existem riquezas quase inesgotáveis na Terra, só temos de usar as nossas tecnolgias para as extrair e colocá-las no mercado.
- - Que só existe um sistema económico e político que é imensamente superior a todos os outros, e por isso devia ser adotado por todos os povos do mundo no seu interesse.
- - Que a felicidade humana consiste em ter os últimos, mais confortáveis e poderosos produtos, e arredores sumptuosos.
- - Que ter muitos filhos demonstra a virilidade e capacidade de um homem suportar uma família grande.
- - Que a natureza e o ambiente podem muito bem tomar conta deles próprios, apesar dos estridentes gritos de alarme dos "verdes" e alguns intelectuais.
- - Que os reais sinais de progresso são cidades maiores com edifícios mais altos, mais e maiores fábricas, quintas maiores e mais mecanizadas, mais e maiores autoestradas, e uma maior seleção de produtos em centros comerciais maiores e mais luxuosos.
Se o leitor acredita nisto tudo, ou na maior parte, é verdadeiramente uma pessoa moderna, o ideal e talvez objeto de inveja da maior parte das pessoas do mundo. E tornou-se uma séria ameaça ao futuro da humanidade.»
"Não podemos resolver os nossos problemas com o mesmo tipo de pensamento que lhes deu origem"
Ervin Laszlo nasceu em Budapeste, Hungria, em 1932. Filósofo da ciência, teórico de sistemas, pensador integral e pianista clássico húngaro, publicou cerca de 75 livros e 400 artigos e gravou vários concertos para piano Em 1993 fundou o Clube de Budapeste, uma associação internacional informal dedicada ao desenvolvimento de uma nova forma de pensar e de uma nova ética para i ajudar a resolver os desafios sociais, políticos, económicos e ecológicos do século 21. Em 2004 e em 2005, foi nomeado para o Prémio Nobel da Paz (fontes: http://www.clubofbudapest.org/, Wikipedia).
Abaixo, uma entrevista a Ervin Laszlo (2010), e a ligação para outra (2009) e uma outra (2012), que nos mostram que Laszlo, já com mais de 90 anos, ainda tem esperança que sejamos capazes de derrubar os nossos limites e construir um mundo melhor.