segunda-feira, 24 de abril de 2017

Carta Aberta de Cientistas pelo Clima

« As comunidades científicas movimentam-se a nível internacional e preparam manifestações públicas para exprimir a sua condenação desta situação em abril, em vários países do mundo, incluindo Portugal. 

Este é, pois, o momento para manifestarmos a nossa oposição, socialmente responsável e com base no melhor conhecimento científico, aos furos de prospeção e exploração de petróleo e gás na costa e no mar portugueses, desde o Algarve até ao Porto. 

Vimos afirmar que é preciso que cessem, desde já, todos os contratos em vigor e que se recusem novas emissões de licenças, de forma a evitar danos irreparáveis para a economia, o meio ambiente e as suas comunidades.»


«Pensamos no mundo global em que vivemos como um sistema vivo e social, um sistema com que nos preocupamos e que temos a responsabilidade de transmitir às gerações vindouras.

As Cimeiras do Clima têm provocado debates mundiais sobre as alterações climáticas. Cientistas têm sublinhado a insuficiência das medidas tomadas até agora pelos poderes públicos nacionais e internacionais. A isto junta-se o desrespeito das metas acordadas por muitas empresas da energia e das maiores consumidoras, organizadas global e localmente em redes de dominação.

Hoje existe acordo entre a maioria das e dos cientistas quanto à urgência de pôr fim às emissões de gases de efeito de estufa. O conhecimento já existente permite abandonar os combustíveis fósseis em favor de energias limpas, as inovações nesta área são constantes. As alterações climáticas provocadas por ação humana são um problema da sociedade a que a ciência pode e tem vindo a responder. Queremos trabalhar em soluções e fazer parte delas, assumindo um compromisso com o planeta Terra e as vidas que humanas e não-humanas que dele dependem.

A relação entre poderes globais e nacionais está a reconfigurar-se após a eleição de Trump, a aliança com Putin e a ascensão da extrema direita na Europa, o que agrava a situação de forma preocupante. Para os povos, as ameaças à paz, à permanência no território, à saúde, à alimentação, à educação, aumentam a cada dia. Acresce ainda a insuficiência do investimento científico, em muitos países, o que ameaça o trabalho de cientistas e o isola mais, socialmente, das soluções justas para os grandes problemas que requerem a intervenção das várias ciências.

A exploração de combustíveis fósseis em Portugal é, justamente, um dos grandes problemas que temos de enfrentar do ponto de vista da cidadania e das ciências que fazemos. Como cientistas sabemos que a persistência de uma economia predadora do carbono inviabiliza os compromissos políticos nacionais assumidos nas Cimeiras do Clima e defrauda as expectativas das populações. Sabemos que destrói os territórios, mares e rios, a atmosfera, formas e cadeias de vida insubstituíveis, aproximando-nos aceleradamente de um ponto de não retorno. Sabemos que, com essa exploração, as populações não ganham nem trabalho, nem saúde, nem lugar para viver. E sabemos que há alternativas.

As comunidades científicas movimentam-se a nível internacional e preparam manifestações públicas para exprimir a sua condenação desta situação em abril, em vários países do mundo, incluindo Portugal. Este é, pois, o momento para manifestarmos a nossa oposição, socialmente responsável e com base no melhor conhecimento científico, aos furos de prospeção e exploração de petróleo e gás na costa e no mar portugueses, desde o Algarve até ao Porto.

Vimos afirmar que é preciso que cessem, desde já, todos os contratos em vigor e que se recusem novas emissões de licenças, de forma a evitar danos irreparáveis para a economia, o meio ambiente e as suas comunidades.»

22 de abril de 2017

Gil Fesch
Gil Penha-Lopes
Helena Freitas
Henrique de Barros
Inês Farias
João Arriscado Nunes
João Camargo
João Ferrão
João Guerra
João Lavinha
João Teixeira Lopes
João Veloso
Jorge Paiva
Jorge Sequeiros
José Lima Santos
José Manuel Pureza
José Maria Castro Caldas
Júlia Seixas
Lanka Horstink
Luís Ribeiro
Luísa Schmidt
Manuel Carvalho da Silva
Manuel Sarmento
Margarida Cancela de Abreu
Margarida Silva
Miguel Centeno Brito
Miguel Heleno
Nuno Almeida Alves
Nuno Santos Carneiro
Otávio Raposo
Patrícia Maciel
Patrícia Vieira
Paula Guerra
Paula Sequeiros
Paula Silva
Paulo Raposo
Paulo Talhadas Santos
Pedro Bacelar de Vasconcelos
Pedro Matos Soares
Pedro Pereira Leite
Ricardo Paes Mamede
Rita Ferreira
Rui Bebiano
Rui Gil da Costa
Rui Vitorino
Sandro Mendonça
Sinan Eden
Stefania Barca
Tatiana Moutinho
Teresa Summavielle
Violeta Ferreira
Viriato Soromenho-Marques»

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